Podcast Leo Fraiman – Pais Nobres, filhos sábios

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Durante a live especial “Pais Nobres, Filhos Sábios”, realizada para o Colégio Planck, o professor Leo Fraiman, que é autor de livros como “Síndrome do Imperador – Pais Empoderados Ensinam Melhor”, psicoterapeuta, especialista em Psicologia Escolar e mestre em Psicologia Educacional, abordou tendências no mercado de trabalho e o papel dos pais e das instituições de ensino na preparação dos estudantes para o futuro.

Durante o evento também surgiram perguntas importantes que foram respondidas nesse podcast.

Professor responde questões fundamentais sobre Educação de crianças e jovens

Para Leo Fraiman, pais, mães, responsáveis, educadores e educadoras precisam ficar alertas para as tendências do futuro que apontam um mercado de trabalho cada vez mais exigente, concorrido, acelerado e conectado. Para ele, é preciso gerar acolhimento dos estudantes, mas dar limites que vão ajudá-los na questão da autonomia, que será fundamental para que eles tornem as suas melhores versões de si mesmos.

Essa postura é fundamental para prepará-los para os processos futuros que devem sofrer grandes e rápidas transformações. Segundo Freiman apontou na live, no último Fórum Econômico Mundial foi debatida a questão de que muitos dos estudantes da atualidade vão ter profissões que ainda nem existem.

Para o psicoterapeuta, pais e educadores precisam sempre ter uma postura consciente e responsável para entender que a frustração pode fazer parte do aprendizado do estudante, inclusive para ajudá-lo na construção de sua inteligência emocional.

Para o professor, cada vez que os pais tiram do filho a chance de fazer algo que eles poderiam fazer (por exemplo, assistir suas aulas online, fazer suas próprias tarefas e enfrentar seus próprios processos), estão tirando deles a oportunidade de desenvolver musculatura mental.

Para esclarecer mais sobre esse assunto, Leo Freiman responde seis perguntas importantes que foram realizadas durante a live. Conheça quais são:

 

Quais os riscos que a “Síndrome do Imperador” apresenta ao desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes?

Leo Fraiman: “Síndrome se refere a um conjunto de sintomas ou traços que se repetem ao longo do tempo. Não é uma atitude ou outra que pode ser interpretada como uma síndrome, é um conjunto de sinais e de sintomas. Em geral, usa-se a expressão síndrome quanto esse conjunto traz um prejuízo para a pessoa, para sua família, para o seu grupo de pertencimento.

“Síndrome do Imperador”, que é o tema de um dos meus últimos livros, trata-se de uma postura de crianças ou de de adolescentes que se mostram  instáveis, incapazes de esperar, inábeis em lidar com as frustrações, que não aceitam bem regras, limites, horários combinados, hierarquias.

Essas crianças e adolescentes se mostram, muitas vezes, ingratas, têm tudo, podem tudo e conseguem tudo o que querem, mas vão se tornando mais ingratas, mais insatisfeitas, e com isso, instáveis emocionalmente.

Imagine então, como esse ser vai  lidar com uma nota da prova que saiu abaixo do esperado, com uma frustração diante de uma amizade que se rompeu ou que mudou?”

Quais problemas secundários são gerados com a Síndrome?

Leo Fraiman: “Com o tempo, essa pessoa pode desenvolver algumas atitudes prejudiciais a si, como se cortar, pode comer em excesso, pode quebrar as suas coisas ou pode se machucar.

Essa pessoa pode jogar essa raiva, essa zanga, essa inabilidade de lidar com a vida e que a torna mais irritadiça, mais triste, contra os outros, atacando colegas, quebrando coisas na casa, xingando os pais e diante da vida escolar, em geral, se mostra uma criança ou mesmo um adolescente indisposto ao risco, a fazer as coisas com autonomia, a se responsabilizar pelos resultados daquilo que depende dela.

Isso pode trazer prejuízos sérios para o desenvolvimento psicológico, social, acadêmico e até para o futuro profissional.

Uma coisa é um mimo aqui, um carinho ali, faz bem,  todo mundo gosta, outra coisa é o dia a dia acabar sendo construído de uma forma que os pais bajulem os filhos, façam tudo que eles querem e com isso as crianças ou jovens acabam entendendo que eles são os donos, os imperadores, eles é quem mandam na casa. 

Isso pode ser uma porta de entrada, inclusive, para as drogas, uma vez que a pessoa que não tem autogestão emocional, não desenvolve a sua inteligência emocional, pode acabar se tornando dependente sempre de algo ou alguém que a acalme, que a  motive, que resolva as coisas para ela.”

 

Qual a diferença de uma educação autoritária e outra que estabelece limites, normas e rotinas?

Leo Fraiman: “Existem 4 tipos de pais, claro que todo pai e toda mãe tem um tanto desses tipos, aqui ou ali a gente pode agir de um jeito ou de outro, tem fases que a gente está mais para um tipo ou outro, mas se olharmos no tempo é muito comum que os pais e mães tenham uma tendência muito maior a um tipo. 

 

Negligentes:  em geral também tiveram pais abandonadores, omissos ou negligentes. Fingem que nada é com eles. Em geral, não se importam muito,  não se envolvem, não cobram, mas também não oferecem afeto. São aqueles que são pais ou mães meramente biológicos, mas não têm engajamento com a vida do filho ou da filha. Isso traz um problema porque à medida que o filho ou a filha não se sentem vistos, amados, queridos, acabam desamando a si mesmos. Isso pode se reverter em comportamentos autodestrutivos, ou mesmo em revolta comportamental até contra os outros.

 

Autoritários: é um tipo também é prejudicial. É aquele pai ou aquela mãe que só sabe bater, ameaçar, comparar, xingar, ficar com o dedo levantado, com cara feia. Tudo se resolve no grito. Isso também acaba sendo ruim para autoestima do filho ou da filha, que acaba fazendo as coisas e eventualmente até obedecendo os pais por nota, para ganhar alguma coisa ou para evitar um castigo. Com esse tipo, não se desenvolve um senso verdadeiro de autonomia.

 

Permissivos: é o pai ou a mãe amiguinho, que faz tudo, é o brother, é a mamãe do ano. É aquela pessoa que é tão encantada com a criança, se coloca numa obrigação de fazer o filho feliz sempre, a qualquer hora e a qualquer custo, e isso acaba sendo uma  porta de entrada para Síndrome do Imperador.

 

Participativos: felizmente em um terço dos lares existem pais que têm uma educação participativa, que são pais conscientes, responsáveis e que buscam um equilíbrio entre a firmeza e o afeto. Firmeza sem brutalidade, e afeto sem permissividade.”

De que forma os pais podem ajudar os filhos a ganhar autonomia?

Leo Fraiman:Em regra geral, é assim: se o seu filho consegue fazer por si, deixe que ela faça. Simples assim. Hoje, inclusive, por estarmos em home office, numa situação em que todos temos que nos reorganizarmos, nos readaptarmos, temos diante de nós uma oportunidade para redesenharmos alguns hábitos dentro de casa, como dividir as tarefas, construir cooperação, colaboração, isso se traduz em ações como: cada um acorda com o seu despertador, cria-se um hábito de todos de se tomar banho de manhã antes de começar o home office, o filho tomar um banho e vestir o uniforme da escola, ligar a câmera, etc. Quando a criança está no Fundamental 1 ou meados do Fundamental 2, é importante entender que a autonomia não vem de graça, não vem sozinha, simplesmente porque a gente quer, autonomia sucede à heteronomia.

Durante um tempo e cada vida tem o seu tempo de desenvolvimento, é importante sim que os pais coloquem os pingos no is e ensinem essas habilidades, de lidar com o limite, de perserverar… 

Como eu falei, de tomar um banho, de tomar café, pentear o cabelo, escovar os dentes, assistir a aula com uniforme da escola, se for o caso, mas estar ali pronto. Nunca aceitar de um filho que ele fique assistindo à aula com a câmera desligada ou jogado na cama, porque aí é que vem o cansaço, o tédio, o bode, como eles falam. É muito importante que nós tenhamos algum adulto perto de nós que nos ensine como levar a vida a sério, a nos levarmos a sério.”

Continuidade de hábitos e geração de autonomia

Leo Fraiman:É preciso assumirmos a responsabilidade para que com a continuidade desse tipo de hábito, de postura diante da vida, em algum momento, a pessoa sozinha consiga ter o tônus interno, daí a ideia autonomia  (auto é próprio e tônus é força). Autonomia significa ter a força interior para saber o certo e o errado, o bom e o ruim, aquilo que é adequado hoje e é adequado amanhã. Isso é autonomia, e é um treino. 

Mas até um jovem de 15 anos pode ter momentos que vai agir com autonomia e outros momentos que vai se tornar um pouco mais dependente.

 Pais empoderados não têm medo de ajudar os filhos a refletir: “Filho qual será a consequência desse ato? Filho se você não fizer o que vai acontecer? Filho vamos pensar tudo que você vai ganhar ao fazer? Filho não é melhor fazer agora e depois brincar? Filho esse é o melhor que você pode fazer? Filha essa situação saiu desse jeito e o que você vai fazer para mudar isso? No que eu posso te ajudar para mudar para que você refaça essa situação e ela saia no momento esperado que você quer?”

Isso é educar para a autonomia, é uma tarefa para a vida.”

Pais são educadores emocionais, como eles podem trabalhar as emoções dos filhos?

Leo Fraiman:Os pais são educadores de todos os âmbitos da vida de uma criança ou de um adolescente. Todos contribuímos de forma direta ou indireta para inteligência emocional, para autogestão emocional. 

O primeiro ponto importante para lembrarmos é que não há emoções boas ou emoções ruins, as emoções são como sinais do nosso painel interno, como um painel do carro que pisca quando precisamos por combustível. 

Esse sinal que pisca no carro não é ruim, ele está avisando de um cuidado, assim como quando dentro de nós está piscando emoção de raiva, é um sinal que algo ou alguém, alguma situação fugiu do nosso controle e a gente está frustrado.” 

Percepção dos pais sobre emoção dos filhos

Leo Fraiman:Cabe ao pai ou à mãe perceber quando o filho tiver uma emoção muito desconfortável como raiva, tristeza, ansiedade e sentar com o filho e criar uma estratégia de usar a sabedoria, ou seja, falar: “Filho, estou percebendo que você está muito irritado, senta aqui. Vamos conversar, se acalma”. 

Às vezes é ensinar o filho a fazer um relaxamento, em alguns momentos proporcionar um carinho ou procurar colocar a cabeça do filho ou da filha em outra coisa: “Filho, vamos aqui ouvir uma música, deixa esse assunto um pouquinho…” , “Filho, ajuda o pai aqui nessa coisa, daqui a pouco a gente reflete sobre isso…” São aqueles conselhos que a vovó dava antigamente de respirar fundo, contar até 10 ou dormir uma boa noite de sono antes de decidir… Tudo isso pode sim fazer diferença na educação emocional. 

Quando estamos com raiva, medo ou tristeza, ou mesmo muito felizes, a sabedoria popular diz: “É melhor não tomar muitas decisões”, afinal, a gente pode estar em um estado emocional muito alterado. 

Os pais podem ajudar muito os filhos e filhas a perceber o que estão sentindo, peça que diga e não julgar que é besteira ou bobagem, é coisa à toa, é ridículo ou dizer apenas que isso vai passar… 

É preciso acolher a emoção, ajudar o filho ou filha a dar o nome para aquilo que está sentindo e pensar: “Bom, o que de melhor podemos fazer em relação a essa emoção?”

O excesso de zelo pode comprometer o desenvolvimento saudável do filho?

Leo Fraiman: Todo excesso é prejudicial. Á agua, por exemplo, é ótima, mas se beber água em demasia, a gente passa mal. Até água demais faz mal. Então, o excesso de zelo, de mimo, querer privilégios, como, por exemplo, hoje em dia até assistir aulas para os filhos, resolver trabalhos escolares, ou mesmo criar essa ideia de que esse ano está perdido, já foi e aceitar do filho menos do que ele pode dar. 

Por exemplo, se ficou combinado com o filho que é ele que coloca a mesa e ele coloca tudo torto, deve perguntar: “Filho, essa é a melhor mesa que você pode colocar?” ou “Filho, vamos colocar uma mesa bonita? Você vai ficar orgulhoso de você!”. Mesmo que naquela hora ele fique “de bico”, mas é importante que os pais ensine os filhos a fazer o certo, honrar os combinados, cumprir os acordos, a dar o nosso melhor. 

Afinal de contas, hoje em dia já é assim, e no mundo, o futuro, cada vez mais será para eles. O  mundo espera de nós a excelência, espera de nós a retidão, espera de nós a correção de caráter… E isso tudo tem que ser construído ao longo do tempo, ao longo dos anos pela família e pela escola, que se completam em seus papéis. 

Como ajudar o jovem a se posicionar diante das escolhas e mostrar aos pais a não tomar frente de sua vida e de seus passos.

Leo Fraiman:Gosto de trazer referências para esse tipo de reflexão. Aos pais, uma dica que eu dou no livro “Síndrome do Imperador”: antes do sim ou do não, do deixo ou não deixo, do pago ou não pago, levo ou não levo, faço ou não faço, pergunte-se: é bom, faz bem, está na lei? 

Se é bom para nossa saúde, se é bom para todos os envolvidos, se é bom hoje e depois, é uma boa decisão. Se faz bem para minha saúde, se faz bem para minha família, se faz bem para minha relação, faz bem minha vida escolar, ótima escolha, está dentro da lei, está dentro do combinado, está dentro das regras, isso ajuda muito…

Resolve por exemplo quando o filho para ir em uma balada e não é para a idade dele. “Pois é filho, aqui em casa aqui em casa a gente tem aquelas três referências “o bom, o bem e o certo”. 

Então, quando a gente tem referência fica fácil não ficar perdido a cada decisão, e sim convidar o filho a internalizar com o tempo, mesmo que aqui ou ali ele diga que a casa é uma prisão, que ele não pode nada e você é um chato. Tudo bem! Muitas vezes as crianças e os adolescentes ficam chateados mesmo, é chato ter que lidar com os limites, mas os limites também são o que faz um jogador a se tornar excelente, porque tem a hora para comer, tem a hora para treinar, ele tem a hora para fazer o que é preciso. 

Isso vale para um músico, para um atleta, vale para todo cidadão. E no lugar de ficar, a cada pequena decisão, dizendo hoje não, amanhã eu deixo ou não deixo, que tal criar critérios e referências que você e o seu cônjuge comecem a conjugar, construir, e, claro, também a cumprir?”

Conclusão

No podcast, o professor afirma esperar que essas ideias ajudem os pais a organizar as suas próprias referências, confiar nos seus valores e serem exemplo para inspirar seus filhos e filhas a se aproximarem da melhor versão de si mesmos.

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