Depois de serem tomadas pela surpresa da suspensão das aulas, as instituições de ensino foram forçadas a uma adaptação e muito planejamento para atuar diante da notícia. Porém, agora é hora de pensar como se preparar para a retomada das atividades presenciais, ainda que não haja uma data específica para esse acontecimento.
Para abordar o assunto, o site Tecnologia Educacional fez uma live com o professor e diretor do Colégio Planck, André Guadalupe, e o diretor de Mercado da Gennera Sistema de Gestão Educacional, Paulo Cezar Sponchiado.
Anúncio governamental da suspensão das aulas surpreende escolas
Quando a crise da Covid-19 chegou à China no fim do ano passado e outros países assistiram às cenas de ruas vazias e setores inteiramente parados naquele país, a maioria esmagadora das pessoas não percebeu que o mundo inteiro viveria o mesmo.
Então, quando a Organização Mundial da Saúde decretou a pandemia em 11 de março, os alertas começaram a se acender em diversos segmentos. A área da Educação no Brasil foi atingida em cheio quando o Governo anunciou a suspensão das aulas a partir do dia 23 de março. Muitos colégios, como o Planck, soube da suspensão apenas 4 dias antes da data oficial do fechamento das escolas.
Alcançados pelo problema totalmente de surpresa, os colégios precisaram implantar, de fato, a cultura digital que já estava regulamentada pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
No entanto, antes da pandemia, a maioria dos colégios utilizava a tecnologia de forma atingir apenas os estudantes, que já eram nativos digitais. O enfoque antes era trazer a tecnologia para melhorar, enriquecer e se tornar um diferencial nas escolas.
Mas com a decretação da pandemia, as ações tinham que ser rápidas para não prejudicar os estudantes. No Planck, a atuação do Colégio foi realizada por fases: a primeira contou com criação de roteiros, enquanto todos os professores foram colocados para o home office para providenciar seus estúdios que iriam representar as novas salas de aula de forma remota.
Muitos deles tiveram que aprender a usar as ferramentas tecnológicas mas deram conta do recado e produziram aulas gravadas e, posteriormente, aulas ao vivo.
Então, no Planck, foram três frentes de trabalho: a criação de um suporte técnico; o cuidado com a parte pedagógica e também a observação dos fatores psicológicos de todos os envolvidos, inclusive das famílias.
O principal cuidado ainda é levar um ponto de otimismo para dentro das casas, já que o momento no lado exterior tem sido muito sofrido, envolvendo perda de pessoas e de rendimentos.
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Pontos de atenção durante a crise
Uma das grandes percepções durante a suspensão das aulas, quando o ensino precisou ser transformado em 100% digital da noite para o dia, é a necessidade de formação do professor nas ferramentas tecnológicas.
Quem promove gestão educacional percebeu que esse foi o grande problema vivenciado por boa parte dos colégios no Brasil afora, porque a adaptação, nesses casos, foi muito mais difícil. Alguns colégios precisaram adotar até férias coletivas porque não havia possibilidade de continuar oferecendo conteúdo aos estudantes naquele momento.
Com exceção do ensino superior à distância, que já estava preparado para aulas remotas, o Ensino Básico e muitos colégios de Ensino Médio não conseguiram se organizar. Ainda havia muita dúvida na operação da tecnologia por parte dos mestres e pouco suporte para suprir a necessidade em caráter de urgência.
É preciso mais direcionamento para promover a formação dos professores na cultura digital. Esses profissionais precisam seguir alguns passos:
– Saber organizar as aulas para o formato remoto;
– Gravar vídeos e fazer lives;
– Ensinar de maneira divertida utilizando recursos tecnológicos;
– Inserir a gamificação em aula;
– Fazer avaliações online.
Porém, o maior desafio percebido na pandemia é que o ensino remoto não deve tirar a essência do professor nas aulas. Cada professor vai ter o seu jeito e suas formas de ensinar.
O Planck, que já é um colégio parceiro Google, teve menos dificuldades que outras instituições de ensino. Porém, também vivenciou experiências de profissionais que não tinham a internet adequada para as aulas à distância ou até mesmo não tinham experiência com as ferramentas tecnológicas.
Neste aspecto, o trabalho em colaboração de todos os envolvidos do Colégio funcionou tanto como suporte técnico como emocional dos profissionais.
Expectativas para a retomada das aulas
Ainda que não exista uma data específica para a retomada das aulas, a grande expectativa é que todo o setor da Educação saia fortalecido, com grandes lições aprendidas, porque as portas estão fechadas mas as escolas continuam vivas, em formato diferente.
No caso do Planck, a aprendizagem socioemocional que já faz parte da proposta pedagógica do colégio, foi muito destacada no processo do ensino remoto.
Os estudantes foram incentivados a ter mais protagonismo, autonomia, disciplina, organização, autogestão e mais colaboração. Por outro lado, os vários profissionais envolvidos no processo também fizeram uso das próprias habilidades socioemocionais.
Além disso, a empatia tornou-se a grande palavra do momento, com pessoas dando exemplos de ações coletivas, pensando na sociedade como todo.
Para o Planck, na retomada, essas habilidades socioemocionais serão ainda mais destacadas porque ganharam mais valor no processo. Todos puderam aprender a ser mais resilientes e usar mais a criatividade.
O setor da Educação como um todo teve que aprender que a tecnologia, que era uma dúvida passou a ser certeza, mas com isso, os professores ganharam mais empoderamento e perceberam que as ferramentas digitais podem sim ser verdadeiras aliadas do processo pedagógico.
Uma grande tendência na retomada é o ensino híbrido, que coloca o presencial e o remoto como elementos importantes e que não competem entre si. Não será possível voltar ao modelo anterior à pandemia.
Para mesclar esses modelos podem ser tomadas algumas ações:
– Garantir uma boa comunicação entre todos os envolvidos no processo de ensino;
– Garantir um registro desse aprendizado;
– Selecionar o aprendizado que vai ser levado para o pós-crise;
– Garantir a fidelização e o relacionamento com as famílias;
– Fazer os colégios trabalharem de forma mais empática.
A crise também poderá servir como um incentivo para que os colégios trabalhem mais na profissionalização de sua gestão, utilizando indicadores e metas para suas propostas pedagógicas e financeiras.
Cada instituição de ensino vai perceber que pode incorporar novos elementos à sua proposta, sem perder a sua alma, com suas características e diferenciais que atraem seus alunos e famílias.
Se os colégios conseguirem mostrar que estão saindo desse processo melhores do que entraram, com uma percepção mais humana, vão exercer o real papel do educador, que é transformar o mundo em um lugar melhor.