As imensas mudanças internas que ocorrem na pré-adolescência podem levar a um prejuízo no desempenho escolar. Como ajudar os estudantes que estão nesta fase?
Leia esse post até o final para entender o que ocorre no corpo e na mente do pré-adolescente, seus sentimentos e descobertas, e dicas de como ajudá-los.
Puberdade x desempenho escolar: existe relação?
Parâmetros de algumas instituições ou documentos oficiais podem divergir sobre o início da adolescência. Para a Organização Mundial da Saúde, essa fase é compreendida dos 10 aos 19 anos, já o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) aponta que a adolescência vai dos 12 aos 18 anos.
O maior consenso é que essa transição entre a infância e adolescência, conhecida como a pré-adolescência, começa por volta dos 10 anos e pode seguir até os 14 anos.
A psicóloga Laira K. Batisteti da Costa explica que a puberdade é o período que marca essa transição trazendo grandes mudanças (físicas, emocionais e comportamentais) e modificando a relação desse estudante com o mundo e consigo mesmo.
“Nessa fase do desenvolvimento, o cérebro passa por uma reorganização, eliminando aquilo que foi aprendido na primeira infância, mas que não é mais essencial, favorecendo assim novas conexões neurológicas. O córtex pré-frontal – que é responsável por ações como planejamento, organização, pensamentos sobre o futuro, raciocínio lógico e distinção entre risco e recompensa – fica mais maleável durante a adolescência. Uma grande dose de dopamina é produzida e injetada sempre que o adolescente faz algo em que se sente bem. É, por isso, que os adolescentes procuram experiências agradáveis, apesar dos riscos”, reforça a psicóloga.
Segundo Laíra, se a relação com os estudos não for prazerosa e desafiadora, poderá sim ter queda em seu desempenho escolar: “Isso não é porque o adolescente é preguiçoso ou difícil, mas por estar passando por modificações físicas e emocionais, causadas pelos hormônios que estão entrando em ação para que ele possa iniciar a vida adulta”, explica.
Pré-adolescentes passam a lidar com muitas questões emocionais
Segundo a psicóloga, a produção dos hormônios sexuais na pré-adolescência altera não somente o corpo, mas também o humor e a percepção dos pré-adolescentes e adolescentes, fazendo com que tenham menos flexibilidade para negociar, assumindo posturas mais rígidas e extremistas diante de alguns assuntos, o que pode gerar conflitos de ideias com os adultos.
“Os sentimentos são vividos com mais intensidade, podendo ter seu humor alterado de maneira brusca no decorrer do dia, com assuntos corriqueiros, estando muito feliz e eufórico ou triste com a sensação que o “mundo” não o aprova e que este é o pior dia de sua vida”, diz.
Laíra revela que, além disso, as mudanças corporais e as comparações com amigos, podem inspirar curiosidade, ansiedade e medo, especialmente, se eles não sabem o que esperar ou o que é natural para esse período do desenvolvimento.
Para o pré-adolescente, ocorre uma nova percepção do mundo
Segundo a psicóloga, todas essas mudanças comportamentais ocorrem nessa fase porque a percepção de mundo dos pré-adolescentes é modificada, tanto pelas alterações físicas (produção hormonal e modificações no cérebro), como por aspectos psicológicos.
“A formação de sua identidade está em pleno vapor e agora com olhar voltado para sua individualidade, pois há o desejo de se saber quem se é para além do espaço familiar. O pré-adolescente irá buscar descobrir quais são seus gostos e estilos (comida, música, roupas, filmes, etc). Tais descobertas podem causar alguns conflitos na família se os pais entenderem como uma afronta aos seus gostos e costumes e não aproveitarem a oportunidade para abordar temas como diversidade, respeito e os valores que a sua família pratica”.
Querem mais privacidade
A psicóloga revela que a privacidade é uma necessidade que irá surgir de maneira crescente na pré-adolescência, com comportamentos como fechar a porta do quarto e do banheiro, colocar fones de ouvido ou senha no celular e computador.
“Nomearmos essa fase como a “aborrecência”, pode fazer com que o pré- adolescente sinta-se incompreendido e rejeitado. Menosprezar seus pensamentos e sentimentos também podem fazer com que ele se afaste ainda mais, buscando apoio em pessoas que talvez não tenham o esclarecimento necessário para ajudá-lo nessa transição”, revela.
Segundo a psicóloga, é importante que a família e a equipe escolar coloquem-se na posição de praticar a escuta ativa, acolhendo os sentimentos e pensamentos, favorecendo a reflexão dos valores que se pratica e que juntos possam estabelecer os limites necessários para manter sua integridade biopsicossocial.
Surgem novos interesses, inclusive, os amorosos
Para a psicóloga, o surgimento dos interesses amorosos nessa faixa etária é natural, já que os hormônios que estão a pleno vapor são exatamente os sexuais.
Diante disso, Laíra explica que é natural que o foco não seja mais somente os estudos. O pré-adolescente pode ter seu humor e estado de atenção e concentração alterados.
“Não há idade certa para se permitir o namoro, mas sim um entendimento do que é mais adequado de acordo com valores da família, priorizando um diálogo afetivo”, aconselha.
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Como os pais podem observar o declínio do desempenho?
Para a psicóloga, uma boa comunicação dos pais com o filho ou filha na pré-adolescência e adolescência é fundamental para entender como tem sido sua experiência escolar.
Ela sugere que os pais destinem um momento do dia para perguntar o que aprendeu de novo nas matérias, se algum tema despertou seu interesse, como foi o momento do intervalo, como estão os amigos e, principalmente, participe de sua vida acadêmica auxiliando nas tarefas escolares, aproximando-se da equipe pedagógica e participando de reuniões e eventos que a escola promova.
“E se perceber algo que não está bem, procure entender com o estudante o que está acontecendo, o que está causando a desmotivação, evitando rótulos como adolescente não estuda porque é preguiçoso”, alerta.
Como driblar as distrações que prejudicam o desempenho?
No mundo moderno e tecnológico, os pré-adolescentes não abrem mão dos smartphones e notebooks, onde podem ouvir músicas, jogar e assistir vídeos ou séries. São muitas distrações que podem tirar o foco do estudo.
Para a psicóloga, para minimizar essas distrações, é importante que os estudantes escolham um local calmo e agradável, com boa iluminação e com menos ruído possível para a realização das tarefas escolares.
Além disso, ela aponta que também vai ajudar a ter disponível todos os materiais que serão utilizados para o estudo daquele dia.
Para isso, orienta uma prática muito apoiada pelo Colégio Planck que é estimular a autonomia na organização do material. “Pequenas interrupções para buscar uma borracha ou livro, podem prejudicar a concentração e foco na atividade e as telas (se não for o home school) devem permanecer desligadas neste momento”, diz.
Como o Colégio pode ajudar nesse processo?
Segundo a psicóloga, devido a reorganização cerebral no pré-adolescência, algumas iniciativas podem ajudar que os estudantes tenham mais interesse e se sintam instigados pelas atividades escolares.
“Mas isso não tem a ver com quantidade de atividades, mas com a complexidade e desafios propostos. O professor deve contemplar em seu planejamento semanal, pelo menos uma aula maker, onde os estudantes são convidados a “colocar as mãos na massa”, a partir de um tema proposto, refletir e construir soluções em um ambiente colaborativo, que favoreça a criatividade e a flexibilidade mental”, sugere.
O Colégio Planck tem entre seus recursos pedagógicos o laboratório Design Maker no qual os estudantes são incentivados a criar, construir e a trabalhar de forma colaborativa, utilizando o design thinking e as habilidades de engenharia na construção de soluções.
Outro projeto pedagógico do Planck é a Academia Sherlock que incentiva as propriedades investigativas dos estudantes para auxiliá-los na construção de conhecimento.
Além disso, o desenvolvimento das competências socioemocionais também está entre os pilares do Colégio. Ajudar os estudantes a desenvolver essas habilidades vai auxiliá-los a lidar com emoções e prepará-los para muitas situações ao longo da vida.
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# Fica a dica da psicóloga
1 – Conheça seu pré-adolescente
Tanto a família quanto o colégio, precisam conhecer seus pré-adolescentes: quais são seus gostos, seus interesses, os assuntos que estão em alta nas rodas de conversa e quais são seus valores.
2 – Mantenha uma comunicação empática e positiva
Ter atitudes empáticas, uma escuta ativa e flexibilidade mental para refletir junto, é importante para manter uma boa comunicação na pré-adolescência dos filhos e filhas e, com isso, favorecer, não só a motivação aos estudos, mas também considerar a vulnerabilidade peculiar a essa fase. Demonstre apoio e confiança, encorajando-o na realização das atividades, destacando seu engajamento e comprometimento.
3 – Mantenha a rotina
Com a chegada da pré-adolescência, a maioria das famílias renuncia à rotina. Não existem mais horários para estudar, comer e, principalmente, dormir. É papel da família manter uma rotina saudável, com horários para todas as atividades, inclusive para os estudos.
Isso não quer dizer que os pais devem impor a rotina, mas construir junto ao filho ou filha a rotina diária, dando autonomia para decidir a sequência e organização das atividades no cronograma, que deve, inclusive, contemplar momentos de lazer com amigos e familiares.
4 – Incentive uma atividade física
Uma rotina totalmente dedicada aos estudos pode gerar um grande cansaço físico e complicações no processo de aprendizagem. A prática regular de uma atividade física promove inúmeros benefícios, como melhoria da memória, concentração, humor e do bem-estar; pois o organismo produz hormônios como a endorfina (que dá sensação de bem-estar e alegria) e a dopamina (que gera efeito analgésico e de relaxamento). Mas essa prática só fará sentido se o pré-adolescente encontrar aquilo que combine com seus interesses – seja natação, corrida, musculação, artes marciais, aulas de dança ou yoga.